O
WR declara-se, por motu próprio, agnóstico. A fórmula serve-lhe para o exercício da indiferença face aos acontecimentos
papabilis. Tudo bem, embora não concorde que represente uma verdade redonda que a escolha do Papa é matéria que compete à Igreja Católica e só a ela diz respeito.
O
WR sabe, oh se sabe, que o papel do Papa, do Vaticano, das Igrejas, pela forma como se cruzam, influenciam, interferem, condicionam os assuntos do mundo, as opções de cidadania, os destinos de todos, as culturas dominantes, as libertações e constrangimentos dos usos e costumes, as hipóteses de libertação dos oprimidos e o desvario dos exploradores, até os assuntos de guerra e paz, é grande e, demasiadas vezes ou insuficientes vezes, de influência maior.
O raciocínio expresso pelo
WR invoca uma Igreja abstracta. E inexistente, sobretudo quando ela (a Igreja) invoca, precisamente agora, uma ainda maior intervenção no mundo, nos nossos mundos. Como se a Igreja fosse um mundo de espiritualidade condómina e privada, um exercício de religiosidade íntima e entre compadres, na relação dos homens e das mulheres com deus. E esta ilusão é propagada no exacto momento em que se forjaram unanimidades a considerar o falecido João Paulo II como o mentor da destruição de um bloco político-ideológico, o continuador da condenação do aborto, da contracepção e da relação sexual fora da intenção procriadora, mais o exercício puro e duro da subalternização da mulher. E se dá como adquirido que o novo Papa será escolhido em função das posições desejadas para com estes mesmos projectos de política, dos usos e costumes, de opções de cidadania, da vida de todos católicos e não católicos. É que, desengane-se se enganado está o
WR, o Conclave está a optar pouco, muito pouco, segundo razões teológicas ou de filosofia perante o mistério do divino e dos medos humanos, e mais, muito mais, como vai influenciar o nosso mundo. Este projecto de universalização da acção da Igreja não implica o direito ao contra-efeito de todos os universos, no pensar e valorizar, lhe responderem na mesma medida a do universal, com direito de lugares à oração, ao aplauso ou à reprovação?
Eu nunca soube bem o que era isso de se ser agnóstico. Parecia-me coisa de
voto em branco ou daqueles que respondem Não sei/Não respondo aos inquéritos de opinião. Uma espécie de adeptos da higiene na opção pela não opção. Nunca soube mas passei a saber. Agora. Porque, segundo o
WR, um agnóstico confesso, o ateísmo militante é, tão só, a outra face da moeda do fundamentalismo religioso. Ou seja, agnóstico é, fazendo-lhe fé e permitindo-lhe doutrina, ser
indiferente perante a Igreja e denunciar equivalências simétricas dos ateus à facção mais dura e crispada da prática religiosa. Ou seja, distraído com Cristo mas implacável com os Anti-Cristo. Com o enorme alívio da isenção do purgatório da terra de ninguém da imparcialidade e do direito à coexistência das várias formas de pensar e interpretar o religioso, como filosofia e como prática.
Adenda 1:Estava eu ás voltas com este post e, castigo merecido, sai o Ratzinger como Bento XVI. Pois dou toda a razão ao
WR, dá mau resultado ateu meter-se em assuntos papais. Ateísmo é coisa que enerva Cardeais, sobretudo na hora do voto. Pior, pior mesmo que Ratzinger, só sair Policarpo ou Saraiva na rifa (quem é que ia aturar o chinfrim das sotainas lusitanas?).
Adenda 2:O
WR respondeu a este post. Clarificou o seu posicionamento. Disse das suas condescendências e repulsas. Avivou diferenças de pontos de vista entre os nossos modos de pensar. Melhor, avaliações muito diferenciadas sobre o papel da Igreja Católica no mundo. O que não tem nada de mal. Pelo contrário. Até porque, na parte que me toca, é um prazer ler os seus posts.
Pelos vistos, o juízo do
WR é mais severo para com o
ateísmo militante. Eu sê-lo-ei para com o papel da religião e a prática das Igrejas. Talvez, e afinal, uma questão de palmatórias. Será isso que distingue o agnóstico do ateu?
No entanto, no meio de tanta elegância no seu estilo muito próprio, o
WR foi injusto, creio que por precipitação, a atribuir-me qualquer projecto inibitório de ele se considerar agnóstico e quando verrina
Então não posso eu considerar-me agnóstico, se entendo por agnosticismo uma postura descrente em relação à prática religiosa e à fé divina? Sim, por motu próprio, pois claro. Ou será que são os outros a decidir das minhas crenças ou descrenças?. Claro que o
WR pode declarar-se o que entender declarar-se. Problema exclusivamente seu. O que falei foi da
minha dificuldade de entendimento do significado da categoria de
agnóstico (eu, que me defino nos mesmíssimos termos do
WR - descrente em relação à prática religiosa e à fé divina , considero-me ateu, termo antipático a que não me escuso). E, como o
WR não deixará de concluir - se ler com mais desportivismo o meu texto - o
motu próprio utilizado por mim era (constatação) sobre a sua decisão de se declarar agnóstico e nunca, por nunca, sobre o seu realíssimo direito a decidir sobre o quer que seja crenças, descrenças, mais o que lhe der na real gana.
Quanto às questões de divergência, ou muito me engano ou vamos ter pano para mangas nos próximos tempos. Como o massacre ideológico-religioso-mediático pegou de estaca, os caminhos da Igreja vão continuar na ordem do dia. Descansemos pois que oportunidades não vão faltar para conversarmos e nos desentendermos. Ou, sem darmos por isso, até nos entendermos. Para já, foi um prazer.