
Um dos pontos chave dos sistemas fechados, de facto ou com ambição totalitária, é a desarticulação da sociedade civil. Obrigando que tudo, na sociedade, gravite em torno das estruturas do poder instalado. Essa a forma como se exerce, para além do jogo de aparências, o controlo do aparelho político e do aparelho repressivo (por sua vez, dependentes do partido único) sobre todos os pontos de vitalidade e mobilidade social. É o caso de Cuba.
A libertação dos cubanos, o direito a viverem numa sociedade democrática, só pode (só deve) ser obra dos próprios cubanos. A liberdade não é importável, merece-se e conquista-se. Mesmo quando os seus caminhos são penosos, muito penosos, exigindo criatividade, persistência e coragem para enfrentar a repressão, o desânimo, as divergências e divisões internas.
Cuba não será libertada a partir de fora do seu território. O que um democrata, em qualquer parte do mundo, aquele que entenda que a liberdade e a democracia são bens universais a que os cubanos
também têm direito, pode fazer é ser solidário com os cubanos que lutam pelos direitos humanos e pelo fim da opressão. Dando eco às suas vozes, ajudando, pouco que seja, a impedir que o regime castrista imponha uma muralha de silêncio à luta dos combatentes pela liberdade. O resto, o essencial, os contornos da superação do totalitarismo, será única e exclusivamente obra dos cubanos.
A vida de povos sob ditaduras prolongadas, permite que o regime semeie e colha uma cultura de resignação e de impotência que são o efeito mais visível da anestesia pelo sentimento de castração perante uma forma de domínio político e policial que aparentam omnipotência eterna. Sabemo-lo pelos 48 anos de fascismo à portuguesa, também pela forma como as democracias populares se mantiveram longos anos em vários países da Europa. Nestes regimes, a única sabedoria política permitida é a arte de obedecer, tudo o resto é perigoso e aparentemente inútil.
Se não é fácil ser-se democrata em Cuba, mais difícil é abanar a sociedade da sua modorra e espalhar as bandeiras das lutas pela dignidade. Difícil mas necessário. Imprescindível para que a sociedade mude e a soberania do povo se instale no lugar da tirania.
No próximo dia
20 de Maio, em Havana, vai realizar-se uma
Assembleia para Promover a Sociedade Civil em Cuba numa iniciativa de várias pequenas associações de cubanos residentes em Cuba que não se resignam à ausência de elementares direitos cívicos e políticos. Pretende ser uma plataforma para que a sociedade cubana acorde e se vá levantando na exigência de vida democrática. Não será uma
grande iniciativa de massas, como não podia ser nem tal lhe seria permitido. É um passo. Um pequeno passo. Um importante passo.
A iniciativa, a que desejamos os maiores sucessos, é dinamizada por uma Comissão Executiva cujo rosto mais conhecido é a economista Martha Beatriz Roque Cabello (na foto, ladeada por René Gómez Manzano e Félix Bonne Carcassés). O site da iniciativa pode ser consultado
aqui.