Um:Leio, esforçando-me por acabar com o riso (tem que ser - o Pedro olha-me aflito, o cão ladra como costuma ladrar furioso quando o Benfica marca golo, já vejo a cabeça de um vizinho empoleirada no estendal da roupa):
Exemplo prático sobre a verdadeira "educação testemunhal na evangelização da sexualidade":
Era uma vez um casal que tinha problemas de comunicação a nível sexual. A mulher já estava desesperada, e o marido ainda mais desesperado estava.
Um dia, o marido leu num jornal um anúncio que dizia "resolvo qualquer problema sexual com o método da evangelização" e, em desespero de causa, foi ver o que era.
Era um bonitão, que lhe explicou a simplicidade do método: marido e esposa cumpririam o dever conjugal, digamos assim que hoje vem a propósito, enquanto ele se sentava ao lado e ia lendo o evangelho em voz alta.
Em desespero de causa, assim fizeram. No dia aprazado, o casal foi ter com o bonitão, despiram-se, começaram, e o bonitão ia lendo em voz alta, sentado ao lado da cama. Às tantas a mulher começa a protestar, que é tudo igual, que não vê diferença nenhuma, que não vale a pena, e o marido lança um olhar aflito ao bonitão, que lhe diz: "vamos tentar de outra maneira - você vem para aqui ler, e eu vou para a cama com a sua mulher".
Trocaram, o marido começou a ler, o bonitão começou a fazer o trabalho do marido, e daí a nada a mulher já não estava nada com cara de querer reclamar.
Às tantas, o marido, furioso, grita:
"Vês, meu palerma, vês como se lê o evangelho?"
Claro, isto só podia vir da Helena que, entre outras muitas boas acções, também é o Alter Ego do Manuel António.
Dois:
Agarrem-me senão converto-me.
Recomendo a leitura do post do
Fumaças sobre a
eminência parda do
Castrismo, o irmão de Fidel -
Comandante Raul Castro.
A
Helena reagiu à minha
intromissão do post anterior (e que coloquei no Dedos de Conversa como comentário) e quase me acusou de mata-frades ao pensar-me assim:
estou cá a imaginar que se você fosse touro numa tourada, em vez de um pano vermelho bastava que lhe brandissem uma batina, e lá ia você, tu-tu-tum tu-tu-tum tu-tu-tum, e lá iam batina e toureiro!E rematou, tipo estocada inteira com direito a orelhas e rabo, com um terrível desafio:
Para tornar o debate muito mais fecundo, ganhando nós todos com a sua diferença, proponho um desafio: se você fosse padre, como falaria de sexualidade com os jovens? Hmmm, alto, já vi um primeiro problema. OK. Se você fosse pastor protestante, como falaria de sexualidade com os jovens?Sobre a ignorância da
Helena sobre touradas e o efeito do vermelho sobre os touros (sobre os curas, presumo que o contrário ocorra, exceptuando no colorido dos Conclaves), já a esclareci no seu sítio. Fi-lo, julgo, com a calma olímpica que possa ter um pacífico devorador de salsichas, embora me reste o mistério indecifrável do porquê de ela imaginar que se faça
tu-tu-tum (parece-me mais coisa de índios) quando um touro investe ou um herege tenta virar de pantanas um cura a fugir de sotaina arregaçada. O que demonstra a desgraça igual que é um ateu meter-se em coisas de religiões ou um crente caricaturar pessoas de nenhuma fé religiosa. E eu concedo que a asneira original foi minha. Mea Culpa. O que não me impede de continuar a perorar, sobretudo perante um repto estimulante.
Fica, que se esprema sem picardia nem sequer ironia, o desafio de eu me imaginar cura ou pastor a falar de sexualidade com os jovens. Que diria? Isso mesmo, que diria?
Boa pergunta, ficando claro, como declaração de princípio em ante-sala e para facilitar, que, em qualquer circunstância e sobre qualquer tema, se a desdita me tivesse levado a ser cura ou pastor, a primeira coisa que faria (ou devia fazer), sempre, era deixar de o ser. E esta nota aqui fica como mero sinal de respeito pela diferença e por achar que entendo bem que falamos do mesmo tema mas com posturas em plateias diversas, relativizando a essência provável da discordância.
Continuemos, imaginando-me cura ou pastor, nunca o sendo por não o poder ser. E isso remete-me ao meu papel de pai e de educador com vestes de laico procurando o bem. E só nessa qualidade respondo, dessacralizando a coisa. E digo-lhe:
- tenho por norma pedagógica não falar de sexualidade com os jovens. Escuto-os, tenho-lhe os ouvidos bem abertos (às palavras e aos sinais) e só entro em achegas se vir que há perigo à vista ou apetência em me saberem a opinião ou a experiência (o que só raríssimas vezes acontece). Porquê? Porque não acredito em educação sexual, em normativo sexual, em experiência sexual transmissível. E sou tolerante sobre os caminhos, que sei serem ínvios (só podem sê-lo) da descoberta da sexualidade, porque acredito que, sem os pisar ou evitar-lhes a atracção experimental e de descoberta, não há síntese de maturidade que resulte. A sexualidade não é esquecida mas não é um problema a necessitar de educação (excepto quanto à prevenção de doenças sexuais transmissíveis e à gravidez precoce ou não desejada), tanto mais que eu não tenho chave para ninguém (a minha cá vai andando mas sobre ela não falo por pudor e se ele me é permitido nesta conversa de amizade e bem querer) sobre os caminhos de autodeterminação sexual nem normas para dar ou vender, quanto mais testemunhar. E, para mais, nem sequer sei o que é o sexualmente correcto. Sou mais um intuitivo que um pedagogo, como vê. E assim me defendo não me demitindo. O tema vem quando vem (sempre e apenas quando lhes apetece, aos jovens) e procuro misturá-lo, enquadrando-o em outros valores, interesses e facetas, retirando-lhes uma carga autónoma de problema ou de tema. Sobretudo porque penso que a sexualidade é amor (mas tem um campo próprio e autónomo - de realização de prazer e o prazer só é ilegítimo quando agride alguém) mas que os seus caminhos são únicos e não transmissíveis, não julgáveis, livres de liberdade feita, em que qualquer testemunho normativo ou de mensagem (passado como evangelização ou como redenção dos pobres e oprimidos) é apenas um acto de violência e de tentativa de domínio sobre outro, com dolo se cometido sobre um jovem. Falando do mundo e das pessoas, de nós, de vós, deles, daqui, dali, não falamos de sexualidade? Oh se falamos. Não fosse assim, não se topavam à légua, como se topam, os sexualmente infelizes ou sexualmente sublimados (aqui está outra categoria dos infelizes sexuais). Por isso é que, querendo ou não, julgo que andamos permanentemente a dar educação sexual aos jovens. E como ele topam a nossa autoridade académica no assunto ou absoluta ou meia inépcia para tal arte. E aqui é que o touro torce o rabo, para terminar com um regresso de estilo aos tais curas, pastores e evangelizadores, ou seja, às minhas embirrações de estimação.