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Com o devido respeito, quatro quintos deste mundo vergou-se recentemente a um trampolineiro da rádio, cuja arte maior era transformá-la numa Feira do Relógio sem fios, fazendo relatos de futebol como quem vendia frangos ao quilo, tornando o melhor espectáculo do mundo num mundo de lugares comuns sempre iguaizinhos, repetidos, martelados, injectáveis, insuportáveis. Ele metia piri-piri angolano e carnaval brasileiro, uns tantos abriam a boca ligada ao ouvido e, através dele, ficavam a fruir aquele sentir de alforreca de que repetia a receita, jogo após jogo. Umas vezes certeiro, a maioria das vezes excessivo e cruel, injusto para com os artistas que ele via a seus pés, desrespeitando trabalho de profissionais do ofício que sustentava o seu. Não é pelo devido respeito para com o falecido como pessoa que evito palavras sinceras. Limito-me a homenageá-lo com a verdade da minha singela opinião. Para mim, o morto não é bom porque morreu. Descansa em paz, Jorge Perestrello, mas não te sinto falta alguma nesta rádio a arrastar-se pelas ruas penosas da amargura.
Falta faz-me a
Voz, a maior voz da rádio que algum dia habitou as ondas. A voz da serenidade feita sedução, a voz mais quente, mais fraterna, mais humana. A voz única, inteligente, sem concessões, a voz de
Igrejas Caeiro. De certeza, a voz mais esquecida, mais abandonada. Nem sempre justa, sabendo-se que a justiça habita longe deste mundo. Mas como, nele, a tolerância nunca faltou, discordava-se de
Igrejas Caeiro, mandando-o à fava mas querendo-o sempre perto e de ouvido desperto.
Julgava eu que o
Igrejas Caeiro por aí já não andava. Mas anda. Felizmente. Fora da rádio, sua e nossa rádio, mas anda. E descobri isso da melhor forma, ao saber que um meu querido amigo liderou preito merecido que lhe foi prestado, lembrando que
aquela voz é imortal. É mesmo. Obrigado
Victor.