Que
nesse diaa ciática não me atormente os movimentos
ninguém me marque casamento ou baptizado
a úlcera não me enrole no lençol
os quatro pneus não resolvam estoirar a compasso
um vulcão desconhecido não queira disparar lume em calda sobre a cidade
um pássaro de bico longo não me fure os olhos
a loucura tão estimada e habituada não me meta num colete de forças
o vinho não me suba à cabeça para me dar a dignidade de um bêbado
um prédio cansado não se lembre de me cair em cima
nem
um crítico minta a dizer que sou poeta enchendo-me o ego de ar.
Porque
nesse dia
no dia 18 do mês que aí vem
quero sentar-me quieto com emoção engolida
envergonhado da cumplicidade desejada
visitar um amigo
que
na maternidade das palavras, do talento e da raiva
vai parir um livro.
Nesse dia
não lhe vou querer falar nem abraçar
apenas
ver-lhe florir nas mãos o livro-fiho
como se nascesse na copa de uma acácia rubra
daquelas que vi em Maputo
abrigando meninos sem bola e cheios de vontades de jogar.
Para isso
vou precisar de estar livre e em forma
na liberdade que nós sabemos
na forma do costume.
De
Carlos a 7 de Maio de 2005 às 02:50
(mas como é que este homem tem este condão de me deixar sempre assim, encabulado e a babar-me?)
Recebi o mail esta tarde com a data e a confirmação da reserva no Galveias, ao Campo Pequeno para quem não conhece. Já espreitei e é um sábado, mas não sei das horas nem de mais nada, ainda. O que também sei é que quero muita gente lá para me esconder no meio, misturar a desilusão do meu silêncio com o cenário e passar despercebido. Até porque o grupo de teatro da Carla vai fazer uns sketchs tirados do livro, desenvolvo diligências para haver croquetes & latitas, e acredito piamente que troco os nomes de todos e de tudo e engasgo-me, se tiver que fazer discurso. É por isso tudo, vocês, vocês que sabem o que é a net e muitos viram o livro crescer(-me)que eu vos quero todos lá. Uma semana antes do 25 de Junho.
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