Guernika não passa de uma vilória harmoniosa. Mas tem um enorme peso simbólico. Para os bascos e para quem partilha qualquer sofrimento por atentado à dignidade de um povo. Estão em
Guernika as raízes que os bascos espetaram quando se instalaram em terras peninsulares e que eles cultivam (por vezes a roçar o etno-racismo). E
Guernika é memória para o mundo de uma das maiores atrocidades do nazi-fascismo e que Picasso imortalizou.
Sempre que se proporciona, meto
Guernika como ponto de estadia. Estadia breve mas respeitosa. Para mais, a vila é encantadora na sua calma discreta e os caminhos de acesso são de encher o olho.
(há uns anos, por motivos profissionais, calharam-me várias deslocações a Bilbau e não me esqueço do brilho orgulhoso que iluminavam os olhos do basco anfitrião quando se lhe propunha um salto até Guernika e que ele entendia como uma reverência, que o comovia, para com o santuário da identidade basca)Como de costume, as visitas ao Parlamento (um evidentíssimo Parlamento-Igreja) e ao Museu, um passeio por um dos parques mais belos e inspiradores entre os que conheço (atrás do Museu), o curvar respeitoso perante os restos da árvore ancestral onde se reuniam as tribos bascas, a descida ao largo das Escolas Públicas (lindo com as muitas magnólias em flor), a bebida numa esplanada a digerir a despedida antes do regresso.
Aproximando-se o fim de tarde deste Sábado de Páscoa, havia que abalar pois a dormida estava prevista para Bilbau e, como para toda a viagem, ainda havia que procurar hotel. Lá fomos de volta ao automóvel que havia ficado estacionado numa subida íngreme e de sentido único. Preparados para o arranque, a carripana limitou-se a dar um sinal de agonia da bateria. Com toda a razão, aliás. Na ida para
Guernika, havia apanhado uma zona de intenso nevoeiro e as luzes tinham ficado ligadas durante a estadia que havíamos prolongado com todo o vagar. Impossibilitada que estava qualquer manobra para que o móvel se mexesse, num fim de tarde Sábado de Páscoa, a solução não se vislumbrava à primeira vista. Felizmente, faltavam dez minutos para que o Museu fechasse, o que deu para explicarmos ao seu responsável a natureza do nosso problema. Ligou o telefone e mandou-nos ir para o carro e levantar o capôt. Que esperássemos três minutos que a Polícia Local já vinha a caminho. Veio e num ápice, acessório cabo-bateria ligado, os agentes ressuscitaram a energia da bateria desfalecida. Agradecimentos, troca breve de impressões sobre
Guernika e sobre Lisboa (que os agentes conheciam bem), ala moço que para a frente é que é caminho. E mais um ponto marcado na minha simpatia reforçada para com a vila santa e ofendida do povo basco.
(imagem do autor - uma árvore num fim de tarde no Parque de Guernika)
De Joo a 12 de Abril de 2005 às 16:08
Beijo, querida Guida.
Ora aí está! Pelas fotos, pelas vistas espraiadas e atentas, pelo saborear da ambiência, se me vai escoando o tempo...
Quanto ao incidente da beteria, gente eficiente, esses bascos! Há uns 26 anos aconteceu-nos o mesmo na Covilhã, em pleno centro, e passamos lá a manhã à procura de solução...
Beijocas amigas.
Comentar post