Andar por aqui não evita tropeçar na sujidade (reparem na elegância do meu falar). É a ciber-liberdade. Para o melhor e o pior. No melhor, dá para fazer amigos e curtir cumplicidades. No pior, dá para receber arrotos de quem não se vê o nome vero nem a esbelta face que se possa acariciar com sopapo. Por mim, estou mais que habituado à regra do jogo.
Uma voz livre nunca é de
segunda. Uma
libertária, muito menos.
Não era só na África colonial, que os ferretes de
primeira e
segunda se usavam na carne do BI. Aqui, na sede imperial, todos éramos de
primeiríssima mas, socialmente, a coisa ia até à
terceira e por aí abaixo, que a segmentação classista era, no fascismo luso, a única modalidade autenticamente plural.
Não quero dar importância ao malandro estúpido que cuspiu na
chuinga. Mas não resisto ao impulso do abraço solidário a uma querida amiga que não tenho o privilégio de conhecer o brilho dos (nos) olhos (o da escrita, isso sim, e que, como o algodão, não engana).
Há dias poucos, revi a estação de comboios do Pinhão, onde, na minha infância, terminava a minha odisseia ferroviária de, mala acartada e maior que eu, mudando ali para a
camioneta de carreira que me levava à minha Sabrosa natal, ladeando terras de vinhas e de escravidão ao suor. A estação está recuperada e linda (os seus azulejos são um espanto!). É o meu solar e meu brasão. De borla, porque não tenho cêntimo metido na Companhia. Foi um momento grande de emoção de velho antecipado, partilhada com a única companhia que me merece, convidando-o, o à vontade da lágrima solta e livre. Lá está a memória da divisão entre os portugueses de
primeiríssima de então (as
salas de espera para passageiros de
primeira e segunda classe mais outra, ao lado, para a massa grande dos de
terceira classe). Roubei-lhe a imagem com a minha
digital de trazer por casa e por tropeços. Fica aqui, com um abraço para a
Isabella.