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Por vezes, a história perde páginas (algumas irrecuperáveis) pelo silêncio dos testemunhos. Umas vezes por atraso de preguiça ou de pudor. Outras pela raiva do desconsolo quando ela é mais forte que o dever de olhar atrás para melhor se ver em frente.
Acho eu que a
intervenção pública (a
política é isso mais tudo o que parece
apolítico), quando tal se escolhe ou para tal se é escolhido, mormente ambas, não deve ser um entrar e sair pela surra. Quando alguém se atreve (e, idealmente, todos se deviam atrever) a mexer no destino colectivo, a fazer bem e útil ou a espalhar asneiras, perde-se o direito a silenciar as marcas deixadas, por muito indeléveis que sejam. Nesses casos, o anonimato ou o escuro do bastidor é uma falta de respeito pela memória colectiva que é a substância e objecto principal da história. História que, infelizmente, será sempre coxa, uma aproximação por tentativas, porque há sempre alguém que se encolheu a narrar ou a registar.
Li agora uma evocação que o
Raimundo Narciso partilhou sobre
Barros Moura, o homem que desde os tempos de estudante coimbrão arrastou consigo a alcunha de
IBM (
Inteligente
Barros
Moura). Lutador contra o fascismo, obreiro do 25 de Abril, comunista de mal com o PCP, depois socialista de mal com o PS (quando o
caso Felgueiras deu no que deu, já BM tinha desaparecido para ser reconhecido que ele tinha razão no tempo em que se podia evitar a continuação dos estragos
fatimistas), jurista brilhante e professor universitário, com um enorme poder de dominar a palavra em oratória de sedução, sindicalista e parlamentar. Sobretudo, homem de enorme inteligência e cultura. Principalmente, um lutador e um homem íntegro. No meu caso, também um meu camarada de lutas comuns.
Registo que o
Raimundo Narciso não faltou ao seu dever de dar o
testemunho devido para com a memória de um democrata com marca forte na construção de caminhos de futuro. A ler. Está lá uma parte da figura de
Barros Moura e uma parte também das vicissitudes em que a luta e a democracia também foram tecidas, sobretudo quando não houve encolhimento perante o politicamente
inconveninte, em que a irreverência da fase juvenil adquirida a escaqueirar o fascismo não se perdeu na fase adulta quando se tratou (ou se trata) de enfrentar os monolitismos partidocráticos que ameaçam retirar-nos a decência de homens livres. Neste caso, na margem esquerda do rio, que é de onde a luta pela liberdade nunca deve sair, mesmo quando leva com a picareta da
felicidade igualitária.