![tarrafal1[1].jpg](http://agualisa2.blogs.sapo.pt/arquivo/tarrafal1[1].jpg)
No sábado passado, duas evocações de memória tiveram lugar em Lisboa uma visita à fachada da antiga sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso (que tencionam transformar num condomínio de luxo) e a recordação das vítimas portuguesas que penaram no Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde).
Uma e outra evocação tiveram escassas presenças e foram sobretudo participadas por idosos ou por aí próximos. O que significa que ainda há quem não esqueça mas, em termos colectivos, a relevância é pequena. A maior parte andará a fazer contas ao presente (e que contas, para grande parte) que sobra pouco para investir no futuro e para recuperar o passado.
A transformação da antiga sede da PIDE num condomínio privado e implicando a destruição do sinal mais marcante na longa repressão que este povo viveu, tem um preocupante significado a supremacia do negócio (no caso, imobiliário) sobre a memória histórica contemporânea das marcas da tirania que nos moldou (a este povo) o carácter e o ser. A proposta de revogação desta medida e a adaptação do espaço a um Museu da Resistência, merece apoios, todos os apoios.
A evocação do Campo de Concentração do Tarrafal, espantosamente, passa mais despercebida que a evocação de Auschwitz entre nós. Como português, não deixa de me surpreender uma muito maior sensibilidade perante a máquina do holocausto que a despertada pela sua cópia salazarenta. Como se esta
cópia não tivesse o mesmo estigma de perfídia e o mesmo carácter criminoso. A não ser que a dimensão, a quantidade e a técnica sejam os elementos relevantes na apreciação do crime.
E se o Tarrafal foi encerrado em 1945 no seu uso para prisioneiros portugueses, isso deveu-se ao facto de ele ser exactamente uma cópia adaptada de Auschwitz e dos outros campos nazis. O que não impediu que ele fosse reaberto nos anos sessenta e se mantivesse como campo de extermínio até 1974 (agora para prisioneiros africanos). Estes dois períodos de funcionamento do Tarrafal dão aliás uma medida do racismo fascista o regime, os maus tratos, a aplicação de tortura e a função de liquidação física e psicológica dos prisioneiros foram muito mais violentas na fase africana que na fase europeia. Curiosamente, os próprios anti-fascistas, na sua evocação do Tarrafal, nem sempre se despegam deste contágio racista, pois é frequente ficar-se pela heroificação dos prisioneiros da fase portuguesa, omitindo-se, em relevo, a barbaridade que representou a sua reabertura para patriotas africanos e o seu uso como meio de aniquilação dos dirigentes dos movimentos de libertação. Mas, sabe-se, o anticolonialismo nem sempre, muito menos desde sempre, teve a mesma velocidade e profundidade de convicção que o antifascismo.
Adenda: Assino por baixo o
apelo da Chuinga.