Egas Moniz, como cientista e como cidadão, foi uma das celebridades que Salazar abafou, estrangulando-o para baixo do tapete dos silêncios que ele governava desde São Bento. Porque Egas Moniz tinha um espírito que sempre navegou fora das águas do fascismo (e fora ministro durante a I República!).
Lembro-me de ter ouvido, quando rapazito, pelas conversas caídas das mesas dos adultos nos cafés do Barreiro, como é que o ditador tinha comentado a atribuição a Egas Moniz do primeiro Nobel a um português o Prémio Nobel da Medicina de 1949 (que ele ganhou ex-aequo com outro cientista):
- Então já temos um Meio Prémio Nobel. Nada mau! E ordens foram dadas à censura para que a consagração não tivesse eco.
Certo é que o património da obra de Egas Moniz, mesmo com tantos anos de democracia em cima, ficou sempre com a marca pegada de alguma sarna de ostracismo. Quando Salazar decidia o que fosse, era para valer e para durar. E a marca infernal do seu índex foi qualquer coisa que pegou nas nossas almas lusas, como se fossem riscos feitos com ferro aquecido no fogo das brasas ainda quentes que sobraram da Inquisição. O homem sabia mesmo do ofício da separação entre lembrar e esquecer.
Porque me lembro agora das conversas escutadas em garoto pelos cafés do Barreiro e que respingavam revoltas susurradas contra o opróbrio que Salazar lançou sobre o nosso primeiro Nobel? Porque, exactamente a partir do Barreiro, um
investigador (que, às vezes é meu estimado polemista sobre as contabilidades das coisas de esquerda) resolveu abrir um blogue dedicado a Egas Moniz. Para quem não queira perder a memória das nossas poucas grandezas acumuladas, aconselho que o
visite.